Na Sexta-feira Santa, fiquei impressionado com a  crueldade com que tratavam quem encenava Jesus. O caminho que escolheram para a  Via Sacra era realmente pesado. Eu mesmo já não aguentava meus pés, o calor  estava fazendo-me sofrer. Coloquei-me a pensar no jovem que estava no lugar de  Cristo. Eles o golpeavam fortemente. Aliás, as pessoas que representavam os  soldados o fizeram muito bem, com gritos e humilhações.
               Depois, dei-me conta  de que a verdadeira crucificação deve ter sido atroz. Não posso imaginar quanta  dor, tormentos, humilhações, grosserias, vaias e demais insultos que o Nosso  Senhor recebeu. Senti um calafrio terrÃvel. Neste momento, virei-me para ver  Jesus e ele me surpreendeu com seu rosto tão sereno. Ele nos olhava com ternura  e com compaixão. 
               Seu olhar me comoveu  muito. E eu lhe perguntei: meu bom Jesus, a pesar de terem te chamado de louco  e de o senhor ter morrido de uma forma tão cruel, como o senhor fez para não se  amargar e não se deixar envenenar por tudo o que o senhor padeceu? Como  transformou essas humilhações e tormentos em amor, serenidade e ternura? 
               E basta olhar para nosso interior ou voltar o olhar  ao nosso redor para descobrir que a dor e o sofrimento têm feito muita gente  sofrer.
               Encontramos pessoas que foram feridas, mas que não  aprenderam a perdoar e, agora, têm um coração que, de tão duro, não consegue  sentir nem o amor, nem a ternura, nem a felicidade. Levantaram muros enormes,  cujas bases são o rancor ou o medo, e ninguém pode cruzá-lo. Diante da menor  provocação, encontram veneno suficiente para manter a amargura e o  ressentimento que continuam secando suas almas.
               Por outro lado, para outras pessoas – como Jesus –   as dores e as humilhações, embora tenham feito sofrer, não envenenaram a  alma; pelo contrário: essas pessoas se transformaram e se tornaram mais  compreensivas, amáveis, melhores. Então, o que essas pessoas têm de diferente?
  Como padre, percebo  que as pessoas mais espiritualistas, mais próximas a Deus e à Igreja podem se  soltar mais facilmente das garras da amargura. 
               É verdade que conheço pessoas que sofreram muito,  que fizeram outras padecer , que tiraram tudo delas e que as abandonaram. Essas  pessoas teriam muitas razões para viver ressentidas. Mas a fé e a confiança que  elas têm em Deus as mantém serenas…
               E, ao olhar Cristo na cruz, eu tenho a certeza: as  pessoas mais próximas a Deus, aquelas que compreendem bem a sua entrega, podem  transformar todos os seus sofrimentos em amor.
               Eu continuava vendo o rosto de Cristo. E senti que  ele queria me dizer algo:
               – Eu vim para lhes ensinar o caminho. Mas muito me  aflige o fato de alguns permitirem que as dores, as humilhações e os  sofrimentos lhes causem tanto dano, e que se deixem envenenar por isso. Sinto  muita tristeza pelos que deixam suas vidas ficarem secas, sem amor, sem  alegria. Mas o que mais me dói é quando quem sofreu agora faz sofrer. Gostaria  que eles voltassem a me ver na cruz e aprendessem que sou manso e humilde de coração.  Queria que eles aceitassem suas feridas e descobrissem que, através delas, eu posso  entrar em seus corações e, dali, curá-los e reconstruir toda a sua vida. 
               – Meu Jesus, lamento muito por te fazer sofrer. Eu  mesmo muitas vezes já me deixei contaminar. Mas hoje, ao te ver transformar  todos os teus sofrimentos em amor e salvação, ao contemplar teu olhar tão doce  te prometo suavizar meu coração para soltar tudo o que me causa prejuÃzo. Quero  deixar meu interior somente para Ti, para que me salves da amargura e do  ressentimento.
               Depois deste diálogo com meu Senhor, parecia que o  sol e o cansaço já não me afetavam mais. Agora só é preciso que as feridas que  estão aqui no meu coração e no seu, querido leitor, deixem de nos fazer sofrer.  Peçamos a Deus que venha logo e cure nosso coração dolorido. Amém.             
             
               
                 |  | Autor:Sergio Aguello Vences | 
               
                 | Fonte: Aleteia | 
               
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